domingo

ouvi ruminar

que os cães ladram

e a caravana passa,

mas

ao domingo não há

quem vá à praça ou

não há - nem quem

se desfaça em cada gesto refazer

o que ficou des a j u s t a d o

interrompido mas [de súbito]

ouve-se ladrar alto

e quando se vai a ver ela já se foi.

sábado

seduzido por pequenas

banalidades vulgares, o

que dizer

dos livros desalinhados

na estante

dos jornais espalhados

no chão ou

do cinzeiro a despejar?

sento-me e acendo um

cigarro. fumar até des-

aparecer [e só depois]

tornarei a pensar se o maior

vício está no tempo que foge.

sexta-feira

a ronha e a preguiça no corpo

desabituado destas andanças,

a gravidade e o tempo chamam-no

o corpo que se deixa ir [resignado]

que se esbarra enfim, no fim do dia

de rastos. mexe-se demoradamente

para quando se

deita. para não encolher os ombros.

quarta-feira

será o esquecimento de

coisas sem importância

um tipo de riso do outro lado

tão amiúde ou

envergonhado?

será? - só é coisa tola confundir o estar

deprimido com o que estou senti(n)do.
a loucura branda

nos pés calçados com pantufas

a luz da televisão

e alguns cigarros

emersos na fase adulta da boca:

- hoje nenhum poema deve ser

completo nem compreendido.

terça-feira

o peso da cabeça

sob a almofada e

na sensibilidade que abranda

há alguém que canta [apenas

para se embalar.

quarta-feira

o que trago comigo

- de novo já antigo,

tem tanto de dentro

como de fora

um latido. e se

digo que, à mínima hipótese

de seres tu é automático [eu]

tenho [te] dito.